06/05/2009

Feliz Dia das Mães!


Carta à Minha Mãe



Mãe, quando eu comecei a escrever esta carta, usei a pena do carinho,

molhada na tinta rubra do coração ferido pela saudade.

As notícias, arrumadas como pérolas em um fio precioso,

começaram a saltar de lugar, atropelando o ritmo das minhas lembranças.

Vi-me criança orientada pela sua paciência.

As suas mãos seguras, que me ajudaram a caminhar.

E todas as recordações, como um caleidoscópio mental, umedeceram com as lágrimas

que verteram dos meus olhos tristes.

Assumiu forma, no pensamento voador, a irmã que implicava comigo.

Quantas teimas com ela. Pelo mesmo brinquedo, pelo lugar na balança,

por quem entraria primeiro na piscina...

Parece-me ouvir o riso dela, infantil, estridente.

E você, lecionando calma, tolerância.

Na hora do lanche, para a lição da honestidade, você dava a faca ora a um,

ora a outro, para repartir o pão e o bolo.

Quantas vezes seu olhar me alcançou, dizendo-me, sem palavras,

da fatia em excesso para mim escolhida.

As lições da escola, feitas sob sua supervisão, as idas ao cinema, a pipoca, o refrigerante.

Quantas lembranças, mãe querida!

Dos dias da adolescência, do desejar alçar vôos de liberdade antes

de ter asas emplumadas.

Dos dias da juventude que idealizavam anseios muito além do que você,

lutadora solitária poderia me oferecer.

Lágrimas de frustração que você enxugou.

Lágrimas de dor, de mágoa que você limpou, alisando-me as faces.

Quantas vezes ouço sua voz repetindo, uma vez mais:

“tudo tem seu tempo, sua hora!

Aguarde!

Treine paciência!”

E de outras vezes:

“cada dia é oportunidade diferente.

Tudo que você tem é dádiva de Deus, que não deve desprezar.

A migalha que você despreza pode ser riqueza em prato alheio.

O dia que você perde na ociosidade é tesouro jogado fora, que não retorna.

Lições e lições...

A casa formosa, entre os tamarindeiros assomou na minha emoção.

Voltei aos caminhos percorridos para invadi-la novamente,

como se eu fosse alguém expulso do paraíso, retornando de repente.

Mãe, chegou um momento em que a carta me penetrou de tal forma,

que eu já não sabia se a escrevera.

E porque ela falava no meu coração dolorido, voei,

vencendo a distância.

E vim, eu mesmo, a fim de que você veja e

ouça as notícias vibrando em mim.

Mãe, aqui estou.

Eu sou a carta viva que ia escrever e remeter a você.



(Desconheço autor)

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Margareth Mazetti Copyright © 2012 Design by Ipietoon Blogger Template